Por: Júlia Carneiro

Justificadas, muitas vezes, como uma consequência do estresse, as brigas entre funcionários do transporte público e os usuários são preocupantes. Os números da ouvidoria do Transporte Urbano do DF (DFTrans) indicam que, só no ano passado, foram registradas 4.378 reclamações sobre mau comportamento dos cobradores e motoristas – média de 12 por dia. O problema representa 33,75% de todas as queixas recebidas, colocando esse motivo apenas atrás do descumprimento do horário do ônibus, com 7.262 reclamações.
“Fui passar na roleta e o cobrador estava cochilando em cima da caixinha. Eu dei duas batidinhas no metal para ele acordar e ele achou ruim. Chamou-me de ‘babaca’ e falou que se eu batesse de novo ele ia me encher de pancada. Tive que sair, fingir que não tinha acontecido se não ia virar briga”, lembra o passageiro.
Do outro lado da briga, funcionários reclamam do “pavio curto” dos usuários. O motorista Antônio Euclides tem 12 anos de experiência na área e já passou por situações de estresse. “Eu cheguei aqui dez minutos antes de sair, desci e vim tomar um café. Um cara já queria entrar, e só porque eu fechei a porta ele quis brigar. Já vi passageiro querendo chamar a polícia por que o cobrador não tinha dez centavos de troco”, relata.
Uma situação de conflito dentro de um ônibus pode se transformar em uma fatalidade. Foi o que ocorreu no Rio de Janeiro no dia 2 de março. O ônibus dirigido pelo motorista André Luiz Oliveira despencou do Viaduto Brigadeiro Trompowsky, após uma briga entre o condutor e um passageiro, o estudante Rodrigo dos Santos Freire, de 25 anos. Tudo porque o motorista não havia parado no ponto.
O professor de psicologia da UnB e especialista de trânsito Hartmut Gunther acredita que a irritação do usuário é até compreensível, mas não desculpável. “O motorista é quem está recebendo as reclamações que ele não pode resolver. Às vezes eles realmente estão errados. Mas não é apenas o motorista que é culpado”, conclui o especialista.
Alguns funcionários são exemplos de bom relacionamento com os clientes. É o caso do cobrador Alex Célio, que está há três meses na profissão e já fez amizades. “A gente tem que ser meio político. O passageiro é o cliente e temos que tratá-lo da melhor maneira possível. Não tem mistério, se você for educado você é bem tratado”, diz.
O motorista novato Valdeir Ribeiro, 32 anos, escolhe ignorar as reclamações indevidas e segue as orientações da empresa. “Eu nem posso reagir. Somos instruídos a não discutir e sempre manter o decoro. Eu respiro fundo e deixo passar”, conclui.
Alguns casos vão parar na Justiça. Em decisão recente, o TJDFT condenou a Viação Planalto a indenizar uma passageira vítima de ofensas proferidas por um cobrador, com valor de R$ 4 mil.
Conforme os autos, o cobrador, em dúvida quanto ao pagamento da passagem, xingou e constrangeu a autora em público, proferindo palavras ofensivas, entre elas “caloteira, safada e piranha”.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br







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