A chuva interrompeu a brincadeira das crianças na quadra descoberta da escola de samba do Morro da Quitanda, em Costa Barros, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Sem poder brincar no pula-pula, elas buscavam refúgio sob o telhado do bar da quadra. E sem ter com que brincar, desatavam a falar. O grupo de cerca de 20 crianças falava alto.
Anailza Rodrigues da Silva tentava controlar a algazarra. A maioria das crianças participa de suas oficinas de dança naquela mesma quadra da comunidade. Mas o motivo da reunião de hoje (27) não era festivo. Fazia, sim, parte de um doloroso ritual para qualquer mãe. O ato, organizado por Anailza, lembrava os dois anos da morte da filha, Bruna, de 11 anos, alvejada por um tiro, durante uma operação da Polícia Militar.
“Minha filha estava de férias. Ela estava atravessando a rua, quando começaram a atirar. Os policiais vieram aqui depois da morte de uma policial militar no Complexo do Alemão. No dia anterior, eu lembro que chorei por causa da morte dessa policial, coitada, morta durante o trabalho. No dia seguinte, era minha filha que estava morta, pelas mãos da polícia”, contou.
Vestida com uma camiseta com a foto da filha estampada, ela decidiu reunir as crianças na quadra e cortar um bolo, em homenagem a Bruna. Ela também planejou uma passeata pelas ruas da comunidade, que é controlada por uma quadrilha de criminosos armados, para pedir o fim da violência e justiça para as crianças mortas.
Anailza fez um cálculo rápido e lembrou que, desde que a morte de sua filha, em 2012, pelo menos outras cinco pessoas morreram por balas perdidas em ações policiais, entre elas, três crianças. A última vítima foi o menino Luiz Felipe, de 3 anos, morto com um tiro de fuzil na cabeça, dentro de sua própria casa, há cerca de um mês.
“É uma dor que nunca vai passar. Você vive com isso todo dia. Não tem como a gente fingir que não aconteceu. Aconteceu. Eu perdi e quero lutar por justiça, para que isso nunca mais aconteça. Uma criança está dormindo em casa e morre com um tiro de fuzil. A outra está brincando no pula-pula e morre também de bala perdida. A minha estava de férias, foi atravessar a rua e morreu de bala perdida. Até quando isso vai se repetir aqui?”, questionou Anailza.
Por causa da chuva, a passeata acabou sendo cancelada. Mas, depois de algum tempo, parentes do menino Luiz Felipe apareceram na quadra, com vários cartazes. Alguns pediam justiça; outros denunciavam as mortes.
Os pingos não paravam de cair em Costa Barros. Os pais das crianças vítimas da violência tentavam organizar alguma coisa que substituísse a passeata. Eles se reuniram na varanda de um bar que estava fechado. As crianças levantavam os cartazes. Algumas delas vestiam camisetas com as fotos de Bruna ou de Luiz Felipe.
“Só espero que não matem mais crianças como o meu filho. Só isso que eu quero: paz”, resumiu a mãe de Luiz Felipe, Jurema Rangel, de 19 anos.
Fonte: Agência Brasil
Anailza Rodrigues da Silva tentava controlar a algazarra. A maioria das crianças participa de suas oficinas de dança naquela mesma quadra da comunidade. Mas o motivo da reunião de hoje (27) não era festivo. Fazia, sim, parte de um doloroso ritual para qualquer mãe. O ato, organizado por Anailza, lembrava os dois anos da morte da filha, Bruna, de 11 anos, alvejada por um tiro, durante uma operação da Polícia Militar.
“Minha filha estava de férias. Ela estava atravessando a rua, quando começaram a atirar. Os policiais vieram aqui depois da morte de uma policial militar no Complexo do Alemão. No dia anterior, eu lembro que chorei por causa da morte dessa policial, coitada, morta durante o trabalho. No dia seguinte, era minha filha que estava morta, pelas mãos da polícia”, contou.
Vestida com uma camiseta com a foto da filha estampada, ela decidiu reunir as crianças na quadra e cortar um bolo, em homenagem a Bruna. Ela também planejou uma passeata pelas ruas da comunidade, que é controlada por uma quadrilha de criminosos armados, para pedir o fim da violência e justiça para as crianças mortas.
Anailza fez um cálculo rápido e lembrou que, desde que a morte de sua filha, em 2012, pelo menos outras cinco pessoas morreram por balas perdidas em ações policiais, entre elas, três crianças. A última vítima foi o menino Luiz Felipe, de 3 anos, morto com um tiro de fuzil na cabeça, dentro de sua própria casa, há cerca de um mês.
“É uma dor que nunca vai passar. Você vive com isso todo dia. Não tem como a gente fingir que não aconteceu. Aconteceu. Eu perdi e quero lutar por justiça, para que isso nunca mais aconteça. Uma criança está dormindo em casa e morre com um tiro de fuzil. A outra está brincando no pula-pula e morre também de bala perdida. A minha estava de férias, foi atravessar a rua e morreu de bala perdida. Até quando isso vai se repetir aqui?”, questionou Anailza.
Por causa da chuva, a passeata acabou sendo cancelada. Mas, depois de algum tempo, parentes do menino Luiz Felipe apareceram na quadra, com vários cartazes. Alguns pediam justiça; outros denunciavam as mortes.
Os pingos não paravam de cair em Costa Barros. Os pais das crianças vítimas da violência tentavam organizar alguma coisa que substituísse a passeata. Eles se reuniram na varanda de um bar que estava fechado. As crianças levantavam os cartazes. Algumas delas vestiam camisetas com as fotos de Bruna ou de Luiz Felipe.
“Só espero que não matem mais crianças como o meu filho. Só isso que eu quero: paz”, resumiu a mãe de Luiz Felipe, Jurema Rangel, de 19 anos.
Fonte: Agência Brasil
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