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» » Ministro Carlos Lupi faz pressão até o último momento

Secretário executivo da pasta, acionado por Lupi, pediu a Ezequiel que mentisse

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi,  na Comissão de Ficalização e  Controle para prestar esclerecimento sobre corrupção nos contratos da  pasta
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, na Comissão de Ficalização e Controle para prestar esclerecimento sobre corrupção nos contratos da pasta Aílton de Freitas / O Globo
BRASÍLIA - O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acionou seu secretário-executivo, Paulo Roberto dos Santos Pinto, para pressionar Ezequiel de Souza Nascimento, ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego do ministério, para que ele mentisse sobre a viagem ao Maranhão, feita em dezembro de 2009. Ezequiel havia confirmado que Lupi usou o avião providenciado pelo gaúcho Adair Meira, que comanda uma rede de ONGs conveniadas com o ministério.
No fim de semana, Pinto foi pessoalmente falar com Ezequiel para que ele viesse a público e negasse que o ministro usou a aeronave King Air, emprestada por Adair, mas sim, o avião Sêneca, que também fez parte da comitiva. Ezequiel não aceitou. Sabia que havia fotos e vídeos do evento e ficaria desmoralizado se aceitasse a proposta. Segundo relatos de pedetistas, o deputado Weverton Rocha (PDT-MA) também participou do encontro que ocorreu no sábado, em Brasília, para montar uma nova versão para o episódio.
No encontro, os dois emissários de Lupi falaram que, se Ezequiel aceitasse ajudar, o ministro ficaria agradecido pelo gesto. Já na noite de segunda-feira, quando um site da cidade de Grajaú (MA), publicou as fotos que comprovavam que Lupi viajou no King Air, Ezequiel teve um novo encontro com Weverton. O parlamentar teria feito um apelo para que o ex-secretário negasse o que já havia declarado anteriormente. Apesar das evidências das imagens, o argumento usado dessa vez foi que um desmentido de Ezequiel pelo menos provocaria uma confusão, colocando em dúvida o uso do avião.

Ezequiel confirma que Adair Meira providenciou avião King Air
Ainda na sexta-feira, antes da publicação da reportagem da revista "Veja", Lupi telefonou pela última vez para Ezequiel. Nessa conversa, Lupi teria sido direto: "Soube que a imprensa está em cima de você". Em resposta, Ezequiel informou que tinha sido procurado e que confirmou que participara da viagem pelo interior do Maranhão, em dezembro de 2009. Ao ouvir o ex-secretário, Lupi lamentou: "Isso é ruim!".
Ao GLOBO, Ezequiel evitou falar sobre a pressão que está sofrendo do PDT para desmentir os fatos. Mas, diante de uma terceira versão, do empresário Adair Meira - que admitiu ter intermediado o aluguel do King Air, mas negou ter arcado com os custos -, o ex-secretário do Ministério do Trabalho quebrou o silêncio. Ezequiel garantiu que não pagou a conta do fretamento. Disse que não conhece a empresa de aviação e que o avião foi providenciado pelo empresário. Adair Meira disse que recomendou ao ex-secretário de Políticas Públicas e Emprego que alugasse o King Air na empresa de taxi aéreo Aerotec.
- Não sei nem quem é esse pessoal da Aerotec. Não entrei em contato com essa empresa. Ele chegou com o avião às 4 horas da manhã em Brasília, me pegou, e viajamos para São Luís. Chegamos às 7h da manhã do sábado, e pegamos Lupi, o ex-governador Jackson Lago, e Weverton, para viajar pelo estado. Não vou mudar nada do que disse - disse Ezequiel.
De acordo com pedetistas, a iniciativa de pedir o avião King Air foi do próprio Lupi. Isso porque, no primeiro dia do roteiro no Maranhão, o ex-governador Jackson Lago e o PDT estadual haviam oferecido uma aeronave mais simples, um bimotor Sêneca, que não tem pressurização.
- Ezequiel, o meu cérebro está saindo pelos ouvidos. Arrume um avião com aquele seu amigo - teria dito Lupi ao telefone.
Diante do pedido pessoal do ministro, Ezequiel acionou Adair para providenciar um turbo-hélice King Air. A assessoria do ministério foi procurada para que Lupi e seu secretário-executivo falassem sobre o assunto, mas eles não se pronunciaram.


Ministro Lupi aprovou sindicatos-fantasma

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, aprovou registro de sete sindicatos patronais no Amapá para representar setores da indústria que, segundo o governo do Estado, não existem, informa reportagem do jornal Folha de S.Paulo.

O pedido para a expedição dos certificados teria partido do deputado Bala Rocha (PDT-AP). Ele admitiu à reportagem que se valeu da proximidade com o ministro, do mesmo partido.

Em reposta ao jornal, o ministério afirmou que não atendeu a interesses políticos na concessão dos registros e que seguiu os "procedimentos previstos nos normativos legais".

A denúncia aumentou a pressão sobre o ministro. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), e o líder do partido na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), pediram a saída de Lupi e defenderam a criação imediata da CPI da Corrupção.

Avião

O empresário Adair Meira, dono de três ONGs que recebem recursos do Ministério do Trabalho, contestou declarações de Lupi de que os dois não se conheciam.

Reportagem da revista Veja mostrou que um avião da ONG foi usado por Lupi para fazer visitas ao Maranhão.

Em depoimento na Câmara, Lupi disse que não tem relação com Meira e que nunca usou avião da ONG.

Além da contestação de Meira, um site do Maranhão divulgou foto de Lupi saindo do avião.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, entrou com representação do Ministério Público para que Lupi seja investigado nesse caso. Ele alega que o ministro mentiu.

Foto do ministro em avião foi divulgado pelo site Grajaú de Fato
Reprodução


Propina no ministério de Lupi

O sindicalista João Carlos Cortez diz que assessores diretos do ministro do Trabalho queriam 60% do imposto sindical para regularizar sua entidade

Claudio Dantas Sequeira
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ESQUEMA
João Carlos Cortez diz que a corrupção poderia chegar a R$ 12 milhões
"EXIGIRAM-ME PROPINA NUMA SALA DO GABINETE ONDE
FUNCIONA A SECRETARIA DE RELAÇÕES DO TRABALHO"
Uma acusação pesada bate às portas do gabinete do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Além das denúncias envolvendo o desvio de dinheiro público por meio de ONGs, agora o gabinete do ministro é acusado de extorquir sindicatos para desviar recursos do imposto sindical à central controlada pelo PDT e por assessores de Lupi. Quem faz a denúncia é o presidente do Sindicato de Trabalhadores em Bares e Restaurantes da Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira (Sindrest), João Carlos Cortez. Na semana passada, ele gravou uma entrevista à ISTOÉ, na qual afirma que existe um esquema de venda de cartas sindicais montado dentro do Ministério do Trabalho. O sindicalista afirma que “tudo é operado por pessoas ligadas diretamente ao ministro”, que falam e agem em nome dele. “Prometeram reativar nosso registro desde que eu repassasse um percentual da arrecadação do sindicato”, afirma Cortez. “Exigiram-me propina numa sala do gabinete onde funciona a Secretaria de Relações do Trabalho”. O caso aconteceu no fim de julho de 2007. Ele conta que procurou Lupi para tentar regularizar o registro de sua entidade. Segundo ele, foi marcada uma reunião pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP). Ela aconteceu no quarto andar do ministério, na sala onde despachava o então secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antônio de Medeiros – homem da total confiança do ministro. No organograma do ministério, a Secretaria de Relações do Trabalho integra o gabinete do ministro Lupi. Eram cerca de 10h30 da manhã. Além de Medeiros e Paulinho, participaram do encontro o assessor especial Eudes Carneiro e Luciano Martins Lourenço, presidente do PDT de Santos e braço direito de ­Paulinho. Eles conversaram sentados em volta de uma mesa de madeira redonda, usada para reuniões. “Esperei uns 15 minutos, eles nos serviram café. Medeiros me cumprimentou e indicou seu assessor, Eudes Carneiro, um homem extremamente gentil, que foi quem conduziu a reunião”, lembra. Quem mais falou durante o encontro foi Lourenço.
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NO FOGO
Negociações de cartas sindicais são feitas por
secretarias que integram o gabinete ministerial de Lupi
Cortez alega que não tinha ideia de que estava diante de um esquema ilegal de arrecadação. Em seguida, diz ele, na presença de todos, perguntou o que poderia ser feito e mostrou um parecer da AGU favorável à regulamentação do seu sindicato. Carneiro, um ex-policial federal que acompanha Lupi há anos, sorriu e falou para o sindicalista ficar tranquilo. “Vamos resolver o seu problema, me disse.” Em seguida, Lourenço explicou o que precisava ser feito. Em vez de procedimentos burocráticos, o sindicalista recebeu uma orientação pouco republicana. “Me fizeram uma proposta indecente, um pedido de propina ali dentro do ministério”, conta. Coagido, ele aceitou. “Eu não tinha outra saída,” justifica. O pedágio consistia em repassar à conta bancária da Força Sindical (central ligada ao PDT e comandada pela dupla Paulinho-Medeiros) um total de 60% de toda a arrecadação sindical que seria obtida pelo Sindrest nos três anos seguintes. Um valor superior a R$ 12 milhões, segundo cálculos do próprio Cortez, com base nos 100 mil trabalhadores que compõem a categoria na região de atuação do sindicato e que têm descontados seus contracheques anualmente em cerca de R$ 205.

A reunião durou aproximadamente 20 minutos. Lourenço avisou Cortez que esperasse um novo contato dentro de poucos dias. “Saí de lá confiante de que estava resolvido”, afirma. Coube ao dirigente do PDT tocar o negócio. Lourenço explicou a João Carlos Cortez que o valor da propina poderia ser parcelado em três vezes, em percentuais decrescentes. No primeiro ano, seriam repassados 30% da contribuição sindical; no segundo ano, 20%; e no terceiro ano, 10%. Para escapar à fiscalização das autoridades, as transferências deveriam ser feitas diretamente para a conta bancária da Força. Embora recebam dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), as centrais sindicais não estão sujeitas à análise do TCU, da CGU e outros órgãos de controle externos, o que dificulta o rastreamento de golpes como os denunciados por Cortez.
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O negócio, segundo o sindicalista, teria sido sacramentado duas semanas depois. Luciano Martins Lourenço marcou novo encontro com Cortez, desta vez em Santos (SP), numa tradicional padaria perto do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas da Baixada Santista (Sindquim). Lourenço, além de presidente do PDT de Santos, é membro da diretoria do Sindquim. Enquanto tomavam um café, ele retirou de uma pasta três folhas de papel e mandou Cortez assiná-las. Consistiam num chamado “Termo de Compromisso de Doação”, pelo qual João Carlos Cortez, na qualidade de presidente do Sindrest, se comprometia a realizar os repasses pré-combinados nos anos de 2008, 2009 e 2010. “O Luciano me disse que estava a mando do deputado e do Medeiros, que falava em nome do ministro Lupi. Ele levou os documentos prontos para eu assinar. O termo de compromisso, a título de doação à Força Sindical, servia para encobrir, na realidade, o pagamento da propina. Tudo foi presenciado por outro diretor do Sindrest, Luiz Claudino da Silva”, diz Cortez. Depois daquele dia, o sindicalista diz ter participado de várias audiências com Medeiros e Luciano Lourenço, além de assessores, tanto no gabinete em Brasília como na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, onde o secretário também fazia plantão.

Passados alguns meses, no entanto, a situação do sindicato não foi regularizada. Cortez suspeita que o grupo de Lupi sofreu pressão de lideranças do PDT em São Paulo, como Francisco Calazans Lacerda, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo (Sinhores). Este teria se associado ao Sinthoresp, entidade que disputa com o sindicato de Cortez a organização da categoria na Baixada Santista. Um acordo entre eles naquele momento também evitaria o desgaste de um enfrentamento com a CUT e o próprio PT. “Ouvi que eles pagaram mais para arquivar nosso pedido. Tudo no Ministério do Trabalho é movido a dinheiro”, afirma Cortez. Ele conta que procurou Paulinho e Lupi em diversas oportunidades. Nas comemorações do Dia do Trabalho em maio de 2010, o sindicalista diz ter entregue nas mãos de Lupi um dossiê contando toda a história, na esperança de que o ministro não tivesse conhecimento da operação de seus assessores. “Foi a mesma coisa que nada. Ele nunca deu retorno da denúncia. Logicamente o ministro também está no esquema”, afirma.
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ÍNTIMOS
O ex-secretário Luiz Antônio de Medeiros (à esq.) sempre foi homem da confiança de Carlos Lupi
Hoje quem representa os trabalhadores de hotéis, bares, restaurantes e similares naquela região é o Sinthoresp, mas nem sempre foi assim. O Sindrest conseguiu em 1994 fracionar a base sindical a fim de representar apenas funcionários de restaurantes, bares e similares. Recebeu seu registro e até o código sindical, que dá acesso à conta na Caixa Econômica em que são depositadas as contribuições sindicais. Em 2003, no entanto, a CUT passou a controlar a Secretaria de Relações do Trabalho e, por pressão do Sinthores, cancelou o registro do Sindrest. Cortez recorreu e conseguiu obter da AGU um parecer que considerou ilegal o ato do Ministério. “Não cabe ao Ministério do Trabalho e Emprego interferir na conveniência e oportunidade de determinada categoria para fundar ou extinguir sindicato”, escreveu a advogada da União Carmen Tomasi de Abreu.

Questões sindicais à parte, a denúncia de Cortez reforça a suspeita de que o Ministério do Trabalho virou um grande balcão de negócios para abastecer os cofres da Força Sindical e de dirigentes do PDT. Na edição de 5 de agosto de ISTOÉ, a presidente da Federação Nacional dos Terapeutas (Fenate), Adeilde Marques, revelou que foi forçada a pagar pedágio para conseguir a liberação das cartas sindicais dos sindicatos filiados. Ela apontou o presidente da Força Sindical em Sergipe, Willian Roberto Arditti, como chefe do esquema no Estado. Segundo Adeilde, o registro custaria até R$ 40 mil. ISTOÉ mostrou ainda como Lupi e Paulinho da Força têm fabricado entidades sindicais para atender a interesses políticos e partidários. Em apenas três anos e meio, foram concedidos mais de 1,6 mil registros sindicais e outros 2,4 mil estão na fila de espera. Em média, surge um novo sindicato por dia no Brasil. O esquema está na mira do Ministério Público do Trabalho, que criou uma comissão especial de 16 procuradores para investigar as denúncias de ISTOÉ. O subprocurador geral do Trabalho, Ricardo Macedo, diz que a decisão foi tomada no fim de agosto, durante reunião nacional dos procuradores. “São denúncias graves que atentam contra a liberdade sindical”, afirma. Também devem integrar as investigações o MPF e a Polícia Federal. “É um caso que envolve não só o aspecto trabalhista, mas o criminal também.”
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SEM CARTA
Sindicato dos Trabalhadores em Bares e Restaurantes não teve registro reativado
As suspeitas envolvendo a concessão de cartas sindicais fragilizam ainda mais a posição de Lupi, que perdeu apoio dentro do PDT e do Palácio do Planalto. Na semana passada, ele teve de se defender de novas acusações de desvio de recursos em convênios com ONGs para capacitação técnica. Dois assessores tiveram seus nomes associados ao escândalo e já foram exonerados. Os deputados pedetistas Miro Teixeira (RJ), José Antônio Reguffe (DF) e o senador Pedro Taques (MT) pediram à PGR abertura de investigação. Lupi, confiante na relação de amizade com a presidente Dilma Rousseff, disse que não seria abatido facilmente e só deixaria o Ministério “à bala”. Dilma não gostou e mandou o ministro se retratar. Foi o que ele fez em depoimento na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, na quinta-feira 10. “Presidente, peço desculpas. Eu te amo!”, disse Lupi. Declarações de amor, contudo, não explicam as denúncias que pesam sobre o ministro e seus auxiliares.
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