Durante solenidade de regularização da antiga invasão, ontem, governo anunciou a construção de colégio de período integral, escola federal com cursos técnico e superior, centro de saúde, posto policial e restaurante comunitário
Na cidade desde 1993, Ângela aguarda a escritura: "Estrutural ainda tem muito o que melhorar, mas acho que agora teremos mais segurança" |
A partir do ano que vem, os moradores da Estrutural começam a receber as escrituras dos quase 10 mil terrenos irregulares da cidade. A regularização da área, que ainda faz parte da Região Administrativa do Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), começou ontem, com a assinatura do decreto de aprovação do projeto pelo governador do Distrito Federal. Agnelo Queiroz ratificou o documento ao meio-dia, em frente a uma plateia estimada pela Polícia Militar em 5 mil pessoas.
Aos moradores que presenciaram o momento histórico de reconhecimento da legitimidade do bairro, realizado na praça central da nova cidade, Agnelo prometeu construir na área um colégio de período integral e uma escola federal com cursos técnico e superior, assim como um centro de saúde, um posto policial e um restaurante comunitário. O governador ainda afirmou que as famílias reassentadas irão receber casas de 40 metros quadrados, e que o GDF irá criar um centro de triagem para acabar com o depósito de lixo que deu origem à cidade e terminar a implementação do saneamento básico e do asfalto da região.
Agnelo cumprimenta moradores: governo vai regularizar outras áreas |
Planos
Ângela Maria da Silva, 62 anos, veio de Iguaí (BA) para morar na comunidade erguida às margens da Via Estrutural em 1993. Como ela, mais de 35 mil pessoas atraídas pelas promessas da capital federal levantaram barracos e ocuparam terrenos vendidos por grileiros a baixo custo, e esperaram anos pela legalização de suas moradias. “Derrubaram meu barraco quatro vezes. Bastava os moradores irem trabalhar que a polícia desmanchava todos os barracos”, recorda-se Ângela. Hoje, ela comemora a regularização da área. “Vai ser ótimo ter o lote garantido. A Estrutural ainda tem muito o que melhorar, mas acho que agora teremos mais segurança.”
Enquanto as prometidas melhorias não são entregues à comunidade, os moradores comemoram a perspectiva de finalmente receberem as escrituras dos terrenos onde moram. “Se for regularizada mesmo, vai ser ótimo. Os moradores vão sair da insegurança jurídica”, avaliou a moradora Deuzani Noleto, 56 anos. O nascimento oficial da nova cidade serve como esperança também para moradores de outras regiões. Ana Gomes, 46 anos, líder comunitária há 21 anos, mora em uma área irregular de Santa Maria, e espera que sua vizinhança tenha o mesmo destino da Estrutural. “A regularização da Estrutural trouxe esperança. As famílias agora são cidadãos de fato”, animou-se.
A administradora da Estrutural, Maria do Socorro Torquato, ressaltou os anos de confronto e rejeição vividos pelos moradores da antiga invasão. “A luta da Estrutural não é de hoje. As famílias não vieram para cá botar lixo, vieram para cuidar da cidade desde o primeiro momento”, afirmou. O governo ressalta que serão beneficiados apenas os moradores legítimos da região, e que haverá remoções.
Levantamento
A partir da próxima semana a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) fará o cadastramento dos moradores. Técnicos do governo percorrerão todas as casas para identificar os ocupantes de cada lote. As informações serão usadas nas futuras escrituras individuais. O governo também fará um levantamento dos dados socioeconômicos dos moradores, para conferir quais moradores são de baixa renda.
A regularização da área já conta com a aprovação dos conselhos de Meio Ambiente (Conam) e de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan). A partir da assinatura do decreto, o parcelamento segue para registro cartorial pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Com a matrícula individualizada, poderão ser emitidas as escrituras de todos os imóveis, incluindo os comércios.
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