Filha de Lucio Costa é contra 901 Norte
A arquiteta Maria Elisa reúne-se com o superintendente do Iphan e é categórica: "Que o projeto proposto pela Terracap não seja aprovado, em nenhuma hipótese". Ela diz que o sonho dos especuladores é acabar com o tombamento |
O governo do Distrito Federal tem pela frente uma opositora de peso a seu projeto de expandir o Setor Hoteleiro Norte para a quadra 901 e ali construir 11 torres de 18 andares ou 14 torres de 15 andares. Filha do arquiteto Lucio Costa, autor do Plano Piloto de Brasília, a também arquiteta Maria Elisa Costa entregou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) um parecer, de menos de duas laudas, com 11 "considerandos" e a conclusão de que o projeto elaborado pela Terracap para a área de 85 mil metros quadrados tem de ser rejeitado pelo órgão. O parecer é assinado por ela como presidente da Casa de Lucio Costa.
Na sexta-feira, Maria Elisa veio a Brasília e se reuniu com o arquiteto Carlos Magalhães, que representa o escritório de Oscar Niemeyer em Brasília, e com o superintendente do Iphan no Distrito Federal, Alfredo Gastal. Maria Elisa e Magalhães manifestaram a Gastal, com veemência, suas restrições ao projeto para a 901 Norte e ainda falaram de outras violações ao tombamento do Plano Piloto.
"Preservar Brasília é questão de bom senso e amor ao Brasil", disse Maria Elisa ao Brasília 247, depois da reunião. Ela fez questão de dizer que não concorda com os que alardeiam que Brasília pode perder o título de patrimônio da humanidade por causa das violações ao tombamento: "Claro que há muitos problemas, maiores e menores, mas não de monta a comprometer a identidade de Brasília. O Plano Piloto do Dr. Lucio é poderoso".
"Que há falta de interesse público, há", disse Maria Elisa ao Brasília 247. "Que existem invasões de área pública nos comércios locais, existe, que há etc. etc. etc., há. Mas daí a achar que o patrimônio que Brasília significa está ameaçado vai uma distância e sempre me vem à mente uma coisa que meu pai sempre repetia: todo exagero é contrário ao fim proposto. O sonho de consumo dos especuladores de plantão é acabar com o tombamento!"
Por isso, Maria Elisa pediu que haja "discernimento em relação à maior ou menor gravidade das agressões", pois caso contrário, "na ilusão de estar defendendo a cidade, se está é contribuindo para justificar o fim do tombamento".
A oposição de Maria Elisa à ocupação da 901 Norte, tal como proposta pela Terracap e pelo GDF, é por ela explicada: "Outro dia pensei que o ´vestibular' para a aprovação de projetos na área tombada deveria ter uma prova eliminatória, com uma pergunta só: qual é o gabarito em altura proposto entre o ´avião' e a Epia (Estrada Parque Indústria e Abastecimento)? Se for maior do que a altura de um bloco das superquadras das antigas, ou seja, uns 20 metros, está eliminado". Na 901, os gabaritos propostos pela Terracap são de 45 metros a 55 metros.
Mas não é só a questão da altura, explicou. "O projeto para o Noroeste passa na eliminatória do gabarito em altura, mas chama de superquadra uma quadra com entrada e saída. Só que superquadra não é lugar de passagem, só entra na quadra quem vai para a quadra, como se fosse uma megavila. E onde está a faixa verde? Superquadra é cercada por uma faixa verde arborizada." Com esses erros, Maria Elisa sugere que o projeto do Noroeste "seja devolvido para as devidas correções".
Maria Elisa teme que passados os jogos da Copa do Mundo, os hotéis na 901, "sem ocupação, inventarão um modo de justificar – e aprovar – sua utilização para uso residencial permanente, o que, além de comprometer a imagem original da cidade pela volumetria construída, introduziria, dentro do perímetro tombado, um modo de morar oposto ao das superquadras criadas por Lucio Costa, marca registrada de Brasília".
Maria Elisa considera também "o absurdo que seria comprometer a preservação da identidade urbana original de Brasília em função de um evento passageiro como é uma Copa do Mundo, sobretudo sendo possível resolver os problemas de hospedagem por outro caminho".
Maria Elisa não vive em Brasília, mas na casa onde mora desde a década de 40, no Leblon, Rio de Janeiro. Porém está sempre vindo à cidade e diz ter um carinho imenso pela capital projetada pelo pai. Conhece cada quadra, cada invasão de área pública e cada desrespeito ao tombamento.
Lucio Costa planejou para a 901 Norte a construção de edifícios institucionais: escolas, igreja, delegacia e centro de saúde. Todos baixos, com no máximo 12 metros de altura.
Por Naira Trindade_ Brasília247
Fonte: Brasília 247
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