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Centenária que está na capital desde a construção conta sua história Parente de Lampião, Maria Francisca do Nascimento testemunhou a violência, sofreu com o marido recrutado durante a Segunda Guerra Mundial e cuidou de 14 filhos, seis pentanetos, 63 tetranetos e 67 netos. Sadia, a pioneira de Brasília quer "um mundo mais calmo para as próximas geraçõe
Larissa Garcia

Completamente lúcida, a paraibana Maria faz caminhadas e quase todas as atividades domésticas

Poucos têm ou terão a chance de conhecer e cuidar de um quinquaneto. Maria Francisca do Nascimento tem seis. Ela, que completa 107 anos amanhã, ainda possui 63 tataranetos, 67 netos e 14 filhos — oito vivos. E o tamanho da família, aliado a muita oração, arroz e feijão, é o segredo da longevidade, segundo a centenária. “Já vivi muito, mas passou tão rápido. Ainda não penso em ir embora, quero ficar mais neste mundo para ensinar as gerações futuras o que aprendi com meus pais”, ressalta, com muita alegria.

Mais conhecida como vó Santa, Maria nasceu em Cajazeiras (PB), em 1907. Depois de se casar, aos 16 anos, mudou-se para Pau dos Ferros (RN), onde morou até 1960. De lá, migrou para a recém-inaugurada Brasília. “Meu marido trabalhava em uma fábrica de tecido e foi transferido. Nessa época, pari 14 filhos sozinha, sem ajuda de parteira. Na primeira, comecei a sentir as dores quando estava à beira do açude e, quando voltei para casa, minha filha nasceu. Fiquei com medo de cortar o cordão umbilical, então, meu marido foi de jumento procurar uma parteira para o serviço”, lembra.

Maria veio para Brasília em um caminhão pau de arara, com 22 parentes, em busca de melhores condições de vida. “Primeiro, veio meu tio, para ajudar na construção da cidade. Depois, viemos todos. Lembro que o meu bisavô, pai dela, ficou sentado na calçada vendo o caminhão sair porque não coube mais pessoas. Depois disso, não voltou mais a Pau dos Ferros”, relata uma das netas de Maria, Gildete Feitosa, 65 anos. “Às vezes, me pego com saudade daquela época, fico com vontade de ir lá”, comenta Maria. Primeiro, ela morou em Taguatinga, mas logo se mudou para o Gama, onde mora até hoje. “Gosto muito daqui, todos me conhecem.” Maria não bebe ou fuma. “Quando era moça, às vezes tomava vinho nas festas e fumava charuto, mas larguei cedo”, frisa.

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