Prejuízo e insegurança em São Sebastião
Queda de energia após acidente prejudicou comércio. População teme que tragédia se repita
Patrícia Fernandes
Depois do acidente que matou quatro pessoas em São Sebastião, as marcas ainda estão na pista principal da cidade e no semblante dos moradores. Além do trauma provocado pela tragédia, o medo de que o episódio se repita aflige a população. Comerciantes contabilizam os prejuízos, causados pela falta de energia, e buscam formas de recuperar os investimentos perdidos.
Para a dona de uma padaria próxima ao local do acidente, Ana Lúcia Oliveira, 48, o prejuízo foi de quase R$ 3 mil. Como faltou energia até as 23h de quarta-feira, ela perdeu cerca de 800 pães, além de toda a venda prevista para o dia.
“O prejuízo foi de R$ 600 em pães e mais do que R$ 2 mil na queda das vendas. A prateleira ficou vazia e nossas vendas praticamente não existiram”, conta.
De acordo com ela, as preocupações extrapolam a esfera financeira. “Essa pista precisa de reparos, mais tragédias vão acontecer. Precisam fazer alguma coisa”, diz. A comerciante acredita que a colocação de quebras-molas poderia resolver, parcialmente, a questão. “Já seria alguma coisa. Os carros entram na pista na maior velocidade”, declara.
Impacto
Quem também teve um prejuízo considerável foi o proprietário de uma loja de material de construção Hélio Rodrigues, 55 anos. Segundo o comerciante, a loja teve uma baixa de 70% no dia do acidente. “Não tinha como atender os clientes pelo telefone, a loja tava escura. Foi um impacto muito grande”, diz.
Mesmo com os prejuízos, o comerciante revela que o trabalho da Companhia Energética de Brasília (CEB) foi bom. “Perto da proporção do acidente, confesso que me surpreendi. Estava preparado para dois dias sem luz”, ressalta.
Estudantes ficaram sem aula
No Centro de Ensino Médio 1 de São Sebastião, 600 alunos que estudam à noite ficaram sem aula. De acordo com o coordenador José Maria Farias, os alunos do turno noturno tiveram as aulas canceladas. Os estudantes do turno vespertino tiveram o horário reduzido em virtude da falta de iluminação pública. “Preferimos nos precaver para garantir a segurança dos estudantes”.
O coordenador relata que os alunos estavam apreensivos pela proporção da tragédia. “Viram cenas muito fortes, gente morta. É muito chocante pra eles”, afirma.
Via perigosa
Além da queda de energia, outra consequência é a insegurança da população em relação à pista onde ocorreu o acidente. Ao contrário do que havia informado a Administração de São Sebastião, a assessoria do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), afirmou que a via não é de responsabilidade do DER-DF, mas do Detran. Segundo o órgão, a avenida São Sebastião é área urbana e o DER-DF é responsável pela rodovia distrital DF-463, que antecede cerca de 2km a entrada da cidade.
Segundo o órgão, a duplicação da DF-463 está em fase de licitação, de análise de documentos. Sobre a possibilidade de restrição de tráfego de caminhões nesta rodovia, o DER diz que fará um estudo para analisar a viabilidade de permitir o tráfego apenas pela BR-251. Já o Detran não se pronunciou.
Entenda o caso
Um caminhão desceu desgovernado, acertou a traseira de um ônibus, uma van e mais um carro foi atingido. Ao todo, 14 postes foram derrubados e quatro pessoas morreram, entre elas, dois pedestres: Nelson de Souza Moura, 40, e Ronan Silva, 36. Morreram também José Acioli Sobrinho, 57, e Nivaldo Crethon dos Santos, 55. Os dois eram passageiros do caminhão. Três pessoas ficaram feridas.
Responsáveis por caminhão serão ouvidos
Segundo o delegado-chefe da 30ª DP (São Sebastião), Érito Cunha, o próximo passo da investigação é chegar ao verdadeiro proprietário do caminhão. Segundo ele, muitas empresas terceirizam a frota e pagam para outra empresa fazer a manutenção. “Vamos esclarecer algumas coisas. Pelas imagens, tudo leva a crer que foi falha mecânica. Afinal, não tem como descer naquela velocidade”, afirma.
Na avaliação do delegado, a engenharia dos órgãos de trânsito deve analisar o que pode ser feito para melhorar a segurança da pista. “Enquanto isso não acontece, uma solução seria proibir a entrada de determinados caminhões, assim como já acontece no Eixo. A entrada desse tipo de veículo deve ser pela BR-251”, considera.
Segundo Cunha, o motorista do caminhão será ouvido assim que houver liberação médica. Enquanto isso, outras testemunhas já estão sendo interrogadas. “O resultado da perícia sai em 30 dias. O motorista é nossa testemunha principal”, diz.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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