Depois de ouvir palavras de racismo e homofobia, vítimas receberam socos e pontapés
Eric Zambon
Dois dias após mulheres terem sido agredidas na saída de um restaurante, no Setor Comercial Sul, mais vítimas do sexo feminino foram alvos de violência em local público. Dessa vez, no entanto, teria havido motivação homofóbica e racista explícita. Duas jovens de 21 anos deixavam o Balaio Café, na 201 Norte, por volta da 1h30 de ontem, quando um homem cercado de amigos teria desferido socos e pontapés em ambas.
“Minha namorada tem cabelos curtinhos e uns rapazes pensaram que ela fosse homem. Acharam que ela estava dando em cima da namorada de um deles e partiram para a briga”, relatou uma das vítimas, cuja companheira recebeu três socos e precisou ser internada, com lesões sérias na cabeça. As meninas estavam acompanhadas de duas amigas, que foram seguradas por amigos do agressor. Elas passam bem, apesar do estresse.
“Foi tudo muito rápido. Num momento eles xingaram e no outro já estava uma confusão. Todo mundo gritou dizendo 'é menina!', mas eles não pararam”, relembra. A jovem ficou com marcas de arranhões e hematomas pelo corpo, mas sua namorada teve suspeita de afundamento de crânio e chegou a passar por tomografia.
Antes de fazer um exame, a jovem agredida falou rapidamente com o JBr.: “Mesmo depois de eu ter ficado inconsciente, eles continuaram me batendo”, relatou.
Trauma
No circuito cultural do DF, o Balaio é conhecido por agregar membros de diferentes tribos urbanas na pracinha logo ao lado do estabelecimento. Pessoas de todas as idades conversam sentadas em banquinhos ou, por vezes, tomam a rua da comercial. Por meio de sua conta no Facebook, aberta para visualização pública, a proprietária do local, Juliana Pagul, se disse triste.
“Ataque racista e homofóbico ao Balaio. Quatro minas (sic) espancadas por machões por serem lésbicas. Inaceitável”, escreveu, ainda na madrugada dos acontecimentos. Nos comentários, ela afirmou que a “gang de machões”, como denominou os agressores, ainda foi racista. “Não paravam de gritar que 'preto e gay têm que morrer'”, relatou Juliana.
Um ato contra lesbofobia (medo ou aversão a lésbicas) aconteceu por volta das 18h de ontem no Balaio Café, convocado por Juliana. Pessoas indignadas com a violência sofrida e com a intolerância de parte da sociedade perante diferenças de orientação sexual compareceram.
Saiba Mais
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), lesão corporal é o terceiro tipo de crime mais praticado contra mulheres na capital, com 31,5% das denúncias, atrás apenas de ameaça e injúria.
Mulheres que precisarem, podem usar o Disque Direitos Humanos da Mulher (156, opção 6), telefone usado para fazer denúncias.
Sem detalhes sobre os acusados
Vários rapazes foram levados, em flagrante, à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), após a polícia ter sido acionada. Eles são acusados de lesão corporal, rixa, injúria e ameaça, mas, após detidos, foram liberados. A delegada Ana Cristina Melo não atendeu a imprensa e nenhum detalhe sobre a identidade das pessoas autuadas foi revelado.
A secretária da Mulher, Olgamir Amancia Ferreira, lamentou o ocorrido e destacou que, apesar de o governo enfrentar discriminação por meio de políticas públicas, a condição de parte das vítimas é de fragilidade. “Ser mulher em uma sociedade machista, que se reconhece branca e pauta suas ações pela heteroatividade, deixa a jovem em uma situação difícil, sendo negra e lésbica”, admitiu.
Em 2013, foram registrados mais de 14,7 mil ocorrências de agressões contra mulheres. Brasília foi a sexta cidade do DF com maior número de casos (861), o que revelou aumento em relação ao ano anterior, quando 775 queixas foram feitas. “Isso pode representar que aumentou o número de mulheres que se sentem em condições de fazer a denúncia”, ressalvou a secretária.
Memória
Na última terça-feira, duas mulheres também foram agredidas quando voltavam para o trabalho. O agressor foi preso no dia seguinte. Wilian Alves do Carmo, 26 anos, é suspeito de ter agredido duas mulheres de 22 e 24 anos na saída de um restaurante, na quadra 6 do Setor Comercial Sul. Uma das vítimas teve o braço fraturado e outra teve a perna quebrada.
Willian e um comparsa teriam pedido para sentar junto às moças, na hora do almoço, mas recebido negativas. Diante da rejeição, eles teriam insinuado que as mulheres eram lésbicas e elas decidiram se retirar. Ao se afastarem do restaurante, teriam sido abordadas e espancadas.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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