Risco enfrentado por 1,5 mil brasilienses
Isa Stacciarini

A situação de casas do Setor Habitacional Sol Nascente ameaça a vida de pelo menos 1.566 pessoas que moram em áreas de risco mapeadas pela Defesa Civil. Na maior ocupação irregular da capital, pelo menos 389 edificações podem desabar a qualquer momento.
A vulnerabilidade das residências se agrava em razão do volume e da intensidade das águas em época de fortes temporais. Isso porque na região não existe sistema de drenagem para captação da chuva, o que propicia os desabamentos. A precariedade das construções e os fenômenos naturais imprevisíveis contribuem para que o problema se agrave.
Os trechos 1, 2 e 3 do Sol Nascente são considerados as áreas de maior preocupação, segundo a Defesa Civil. Na Chácara 74 do Trecho 3, a situação é ainda mais alarmante. Isso porque há casas construídas às margens de uma grande erosão que só aumenta a cada ano e piora com as chuvas fortes.
Realidade que não é diferente da Chácara 84 no mesmo trecho. Uma outra cratera se expande para todos os lados. Ali, existem residências – onde moram adultos, crianças e idosos – que já estão quase a 100 metros do barranco.
Desabrigados
Na época, um levantamento da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) apontou que choveu 65% do que era esperado para todo o mês de outubro. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) calculou que a velocidade dos ventos foi de quase 40 quilômetros. Até janeiro, a previsão é de que chova ainda mais.
As condições críticas da região fazem com que as quase 400 famílias vivam diariamente com o perigo do desmoronamento. Em 8 de outubro deste ano, por exemplo, quatro residências não suportaram a força dos ventos e a intensidade da correnteza. Os moradores ficaram desabrigados e precisaram se alojar em tendas montadas pela Defesa Civil e Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest).
Sem lugar para se proteger do perigo
O subsecretário de Operações da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, explica que a ausência do sistema de captação da água da chuva e as construções precárias das residências são fatores que ameaçam as casas do Sol Nascente. Ele esclarece que as edificações não possuem armaduras de concreto, de ferro nem vigas e pilares. “Muitas famílias constroem a casa só com o tijolo e isso não dá firmeza. A parede balança só de encostar a mão, o que é muito precário para residência”, ressalta.
A baixa percepção de risco das famílias também se torna um problema. Segundo Bezerra, há casas construídas em áreas de alta decavidade onde a água escorre com facilidade. O secretário destaca que o problema se agrava em razão de crianças estarem dentro das casas, além de idosos e pessoas com dificuldade de locomoção. Para piorar, as edificações não possuem disjuntores que interrompem o fornecimento de energia elétrica em caso de enchente. “A partir do momento em que a água começasse a subir, as pessoas poderiam desligar o disjuntor, o que evita uma morte por choque elétricos. Mas as casas não possuem essa opção e, pelo contrário, muitas delas apresentam gambiarras de fios”, esclarece.
Tudo errado

A chuva acaba sendo o maior temor de quem mora no Sol Nascente. Em épocas de forte temporal, famílias tentam se proteger dentro de casa, mas a estrutura frágil das edificações coloca em risco a vida dos moradores. É o caso de muitas residências na Chácara 74. Conceição de Maria Rodrigues, 50 anos, mora com os dois filhos de 17 e 19 anos, além do genro de 24, em uma casa à margem de uma das maiores erosões do condomínio.
Medo
A dona de casa, que mora no local há 20 anos, confessa o medo em dias de ventania e chuva forte. “O jeito é se trancar em casa e ficar pedindo a Deus para que o buraco não chegue mais próximo. No ano passado chegaram a entrar algumas pedras de gelo por cima das telhas e a estrutura do teto balançou. É um perigo, mas não tem o que se fazer”.
Para muitas famílias, Deus é único refúgio

O muro e o portão da casa de Maria Luzia Dantas, 34 anos, já chegou a desabar por causa do temporal. A chuva entrou na casa e ela optou por se proteger da chuva atrás do sofá com os dois filhos pequenos, de 4 e 2 anos. “Levei um susto, nem acreditei que o muro da minha casa e meu portão tinham ido para o chão. Quando a chuva vem, ela chega para valer e carrega lixo, terra e até casa. Tudo fica empossado de lama. É um desespero, principalmente de noite”, relata.
Erosões
A dona de casa destaca que a primeira providência que toma é desligar os aparelhos eletrônicos da tomada. “Tenho medo de acontecer uma tragédia maior, como um curto-circuito. Mas o que deixa a gente preocupada mesmo são as telhas de casas voarem e caírem em cima da minha família”, explica.
Na Chácara 84, a situação é ainda pior. Isso porque as casas ficam a poucos metros das erosões. É o caso de onde mora Edite Pereira, 40 anos. A copeira conta que quando chove a água da correnteza destrói ainda mais a cratera.
“O meu medo é de que a casa caia a qualquer instante. E eu não tenho outra opção de moradia. A única casa que tenho é essa daqui. O jeito é entrar para dentro de casa com meus filhos e rezar para a estrutura não cair em cima da gente. É só Deus para não deixar nós corrermos risco”, diz Edite.
Cuidados
Além do Sol Nascente, outras áreas com riscos de desabamento de edificações são Fercal, Vila Rabelo, Arniqueiras e Vila Planalto.
O subsecretário de operações da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, esclarece que em caso ou mesmo previsão de chuvas intensas, a principal recomendação é não deixar crianças, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção sozinhas em casa. Desligar a energia elétrica também está dentre as precauções. “Ao inundar a casa as pessoas tem de deixar a residência imediatamente”, destaca. Ele também recomenda guardar documentos em sacos plásticos.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília







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