Carla Rodrigues
Nem as telas de arame farpado instaladas em praticamente todas as escolas públicas do Distrito Federal conseguem impedir que os alunos sejam vítimas da violência. A ideia é fazer do ambiente o mais seguro possível. Contudo, o esforço dos pais, diretores e professores parece inútil. Do lado de fora, muitos já foram assaltados, agredidos e intimidados. Mais ainda: alguns acabam entrando para os índices de homicídio da região, como o adolescente de 14 anos morto a tiros em frente ao Centro Educacional 1 de Planaltina, em junho deste ano. E apesar de a Secretaria de Segurança não ter os números consolidados de criminalidade nos arredores dos colégios, o diretor do CED 15 de Ceilândia, Anderson Pereira, constata: por mês, ele recebe, pelo menos, 30 denúncias de estudantes vítimas de agressões, incluindo roubos, nas proximidades da unidade.
Do outro lado do DF, situação é parecida. “Por aqui, é comum encontrarmos alunos chorando porque foram assaltados. Eles ficam traumatizados. Um aluno meu foi roubado e agredido, chegou a perder dois dentes durante o espancamento”, relata o professor de filosofia do CEM 2 de Planaltina, Hans Magno Alves. Ainda de acordo com ele, o Batalhão Escolar da PM, que deveria garantir a segurança perto das escolas, “só fica por perto depois de acontecer algo grave. E é por pouco tempo. Logo, eles saem e os bandidos voltam a agir”. Chocado com o cenário, o docente faz um apelo: “Queremos mais segurança. A violência perto das escolas é assustadora”.
Ocorrências
De janeiro deste ano até 30 de maio, o Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc) atendeu 229 ocorrências – 90% no perímetro escolar. São alunos vítimas de furtos, agressões, tentativas de roubo e homicídio. O índice representa 35% dos casos de 2012, quando o BPEsc foi acionado aproximadamente 650 vezes.
Entretanto, segundo diretores, o efetivo está abaixo da demanda. “A própria PM nos fala que está difícil trabalhar perto dos colégios. Eles não têm agentes suficientes. As escolas estão completamente desamparadas”, aponta a vice-diretora do CEM 304 de Samambaia, Rosângela Alves. Segundo informações do batalhão, são 470 policiais para 1.090 escolas das redes particular e pública.
Na unidade de Samambaia, são mais de 2,2 mil estudantes. Por isso, destaca a vice-diretora, “é impossível tomar a frente dos problemas do lado de fora da escola”. Os alunos são aconselhados a andar em grupo. Porém, “os bandidos fazem arrastão em grupo também. Levam celulares, tênis, roupas e, na maioria dos casos, estão armados”.
Tráfico “na cara dura”
Basta conversar um pouco com os alunos de Samambaia para que as denúncias se confirmem. “Éramos quatro pessoas indo para a parada. Quando a gente viu, os assaltantes já estavam perto, armados. Aí, chegaram e disseram ‘passa tudo, passa tudo’. Foi uma experiência horrível”, narra Felipe Duarte de Sousa, 15 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio.
O menino, que segundo a vice-diretora é um dos melhores da escola, faz uma cobrança ao governo: “Posso pedir uma coisa? A gente precisa muito de segurança aqui perto. Tem assaltante, traficante, tudo por aqui. Queria mais viaturas nas redondezas”. A vice-diretora Rosângela reforça: “Os traficantes ficam na porta da escola, na cara dura. Eles corrompem os alunos, que acabam consumindo, se perdendo e é um ciclo vicioso”.
Números
229 ocorrências foram registradas pelo BPEsc de janeiro a maio de 2013
90% delas são de crimes cometidos no perímetro escolar. São crimes como furtos e agressões
470 policiais atuam em 1.090 escolas das redes pública e particular de esnino do DF
650 foi o número de vezes em que o batalhão foi acionado em 2012
Saiba Mais
Ao ser procurado pela reportagem, o Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc) não se pronunciou, tampouco o GDF.
Em matéria divulgada em junho, o comandante do BPEsc, tenente coronel Fábio de Souza Lima, afirmou que “há policiamento das 7h às 23h, mas cada escola registra, pelo menos, uma ocorrência por ano. Em 2012, o BPEsc apreendeu 32 armas de fogo com menores.”
Vítimas de todas as idades
No Setor O de Ceilândia, um dos locais mais violentos da região que ainda continua à frente dos índices de criminalidade do DF, o diretor da CED 15, Anderson, revela: “É constante o registro de alunos assaltados e agredidos fora da escola. E isso é, realmente, uma questão de segurança urbana. Porque a PM diz que não tem contingente para atender todo mundo. E aí? Ninguém pode fazer nada”, constata.
Um dos estudantes da escola, Rafael Araújo, 16 anos, adverte para o problema: “Fui vítima de roubo com a minha namorada. Só levaram os celulares, mas foi assustador. Ninguém espera isso perto do colégio. Tudo porque não tem policiamento”.
E o cenário, cada dia mais desolador, não se resume apenas às escolas de Ensino Médio. Na Escola Classe 17, também em Ceilândia, até crianças, de quatro a 12 anos, acabam vítimas de assalto e agressões nas proximidades do colégio.
“Várias vezes no mês, mais de 20 com certeza, a gente recebe pais e mães aqui reclamando, revoltados, porque os filhos foram assaltados no caminho para cá. Mas não podemos fazer nada. Nada mesmo. A não ser recebê-los na porta e observá-los sair”, relata a diretora da unidade, Maria Salete de Oliveira.
Não há vigilância
A escola não tem policiamento do Batalhão Escolar, segundo a docente. De acordo com ela, o reforço só ocorre nas escolas “mais problemáticas, onde os índices de violência são maiores”. Contudo, aponta, “várias vezes os alunos entram aqui correndo, pedindo ajuda porque foram roubados ou ameaçados”.
Salete reclama da falta de vigilantes na porta da unidade. “Foi extinto da carreira o serviço de portaria. Agora, estamos sem”, ressalta.
Saiba Mais
Ao ser procurado pela reportagem, o Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc) não se pronunciou, tampouco o GDF.
Em matéria divulgada em junho, o comandante do BPEsc, tenente coronel Fábio de Souza Lima, afirmou que “há policiamento das 7h às 23h, mas cada escola registra, pelo menos, uma ocorrência por ano. Em 2012, o BPEsc apreendeu 32 armas de fogo com menores.”
Ponto de Vista
O sentimento é de impunidade. A opinião é do presidente da Associação de Pais e Alunos do DF (Aspa), Luís Claudio Megiorin. Para ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é falho, pois protege demasiadamente os menores infratores, que são, na maior parte dos casos, os principais autores dos crimes próximos às escolas.
“A Justiça é morosa, lenta. A sentença de um ato infracional, que deveria sair em 45 dias, demora mais de um ano para ser definida. Isso corrobora para violência perto das escolas. Muitas vezes, a presença da PM nem inibe os marginais, porque eles sabem que não serão punidos”, critica.
Por isso, acrescenta, a Aspa está trabalhando com o Ministério Público e o Batalhão Escolar. Ele diz que o esforço é para que o projeto de Escolas Polo, com aparelhos tecnológicos que favorecem a agilidade das denúncias, sejam implementados nas escolas mais vulneráveis à violência. “No 156, já não somos mais atendidos mesmo. É um instrumento lento para as necessidades. Por isso, estamos brigando pelo projeto. Entretanto, é importante que a comunidade escolar trabalhe para evitar que atos infracionais de hoje virem crimes amanhã”, observa Mengiorin.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br
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