Por: Isa Stacciarini
Centrado e consciente da fatalidade que matou sua mulher e destruiu seu lar com dois filhos pequenos, o marido da professora Christiane, 37 anos, Marcos Aurélio de Sousa Mattos, 39 anos, apesar de visivelmente abalado, conversou como o Jornal de Brasília sobre a família e o relacionamento de 13 anos com Christiane. Com uma postura reservada, o sargento da Aeronáutica deu detalhes sobre o último dia de vida da companheira. Falou sobre a emoção dos pais de Christiane e do filhos, principalmente da menina de apenas dois anos. Falou ainda sobre o crime que tirou a vida de uma mulher que se dividia entre ser professora, mãe, filha e esposa.

Neste momento o que você enxerga como a real motivação do crime que tirou a vida de Christiane?
A linha mais precisa e o contexto mais coerente foi a versão já apresentada pela polícia de que o homem (Walisson Santos Lemos, de 24 anos, que confessou ter matado a professora) estaria no shopping e o objetivo era abordar qualquer pessoa de forma aleatória. Infelizmente, a vítima do latrocínio foi a Christiane. Ele é totalmente desconhecido da minha família, e todas as especulações anteriores não fazem sentido, mas a imprensa e a polícia imaginam várias situações para se chegar ao desfecho final. Acredito que ela não reagiria à abordagem, mas se deparasse com a situação de morte, poderia ter alguma atitude, como qualquer outra pessoa.
Por qual motivo, o hábito de estacionar o carro em locais privados era uma atitude recorrente da Christiane?
Ela tinha muito cuidado no quesito segurança, e os problemas de sequestro relâmpago eram algo que a Christiane tinha medo, por isso ela mantinha todas as precauções para se sentir segura. Porém, segurança foi algo que não houve no estacionamento interno do shopping em que ela foi abordada. Apesar de um pensamento de que o local possa oferecer uma tranquilidade a mais, na verdade, essa situação acaba sendo apenas questão de comodidade que ainda é cobrada.
O que você acha da atitude de Walisson de levar apenas a aliança da sua mulher e mais R$ 15?
Acredito que a aliança era o bem mais fácil de ser vendido, além de ele conseguir um retorno mais rápido com isso. Os cartões de crédito, que estavam na bolsa, não iriam ter muita utilidade, pois ele não saberia a senha de nenhum. Já o celular smartphone tem pouco valor no mercado negro.
Como estava Christiane no dia em que ela foi morta?
Ela estava feliz, satisfeita e muito tranquila. Na verdade, essas eram as características normais da Christiane, que era uma mulher amorosa, meiga e amiga. Almoçamos em um restaurante, e ela disse que iria ao shopping para comprar ovos de Páscoa e outros produtos para a Semana Santa. Como estava com uma tosse naquele dia, infelizmente não a acompanhei, mas ela também havia mencionado que as tarefas seriam rápidas.
Os filhos perguntam sobre a mãe e têm a consciência do acontecido?
O Eduardo, de 7 anos, sabe de tudo e vê a situação pela televisão, quando as outras pessoas também estão assistindo. Ele tem consciência de que a mamãe está no céu e fala que ela está tomando conta de tudo por aqui. O Eduardo está tranquilo, brinca e tenta manter uma vida normal, tanto que ele chorou só no primeiro dia, pois pensou que a mamãe morreu e sumiu. Agora ele sabe que a mamãe está no céu e que lá é um lugar bom. Já a Gabriela, de dois anos, procura sempre por ela, pergunta pela mamãe e chora todos os dias, principalmente à noite. Estou tentando muito manter a calma, a esperança e a fé em Deus para segurar toda essa barra.
Como está sendo a rotina da família?
Esses dias eles estão dormindo na casa dos pais da Christiane, já que toda a família está ficando por lá. A intenção é de que os meninos retomem às atividades da escola ainda nesta semana. Estava conversando com uma amiga psicóloga, e ela orientou a não deixar as tarefas cotidianas muito longe, pois as crianças gostam de rotina.
Como você tenta administrar a falta da mãe?
Continuo na missão de fazer o que eu já desenvolvia e agora de fazer o que ela também fazia. A Gabriela era muito agarrada à mãe, e na sua ausência, assumi a tarefa de fazê-la dormir, tomar banho... Quando chego ao apartamento em que morávamos, o sentimento é de vazio, em todos os cômodos vejo coisas delas e isso dá saudade, aperto e tristeza. Estou em Brasília há 20 anos. A princípio, a intenção é continuar aqui.
O que você pensa em fazer com os objetos de Christiane?
Está tudo ainda com a polícia, e nós não temos nenhum acesso. Quando forem devolvidos, pretendo vender o carro de Christiane, uma vez que não vai trazer boas lembranças. Quanto ao celular, de repente, eu até guarde para substituir quando o meu estragar.
Por qual motivo o Sr. compareceu novamente à delegacia para prestar depoimento?
Foram tantas perguntas que mesmo se eu quisesse me lembrar de todas eu não conseguiria, mas de forma geral, a delegada questionou o que ocorreu no dia em que Christiane foi morta e sobre como estava o relacionamento entre o casal. Vivíamos um momento maravilhoso entre nós, de muita paz e carinho um com o outro. A família estava estruturada, e agora se desestruturou. Só penso no presente e no cuidado especial com os meus filhos. É uma missão dura, mas com fé vou conseguir e ela vai se orgulhar do marido que deixou aqui.
Como estão os pais de Christiane?
Eles estão muito abalados emocionalmente. É muito intenso. Estão sofrendo muito. Não conseguem nem sequer olhar uma foto dela. Eles choram muito e não se conformam. Ambos têm perto de 68 anos de idade e não aceitam de jeito nenhum o que aconteceu com a filha deles.
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br







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