Germano Guedes & Ricarda Lima ex-jogadora de vôlei da Seleção Brasileira |
Continuação do post Memórias do Vôlei Catarinense - Parte 1...
No primeiro jogo da final conseguimos algo que a equipe não tinha feito o ano todo: vencer o time de Brusque. E lembro como se fosse ontem da frase de João Crisóstomo para o time motivar-se ainda mais: "Se ganharmos o estadual, os Jogos Abertos virão de bandeja!"
Depois de uma longa semana de treinos, enfim chegávamos a Brusque para o segundo confronto. O ambiente era hostil desde que colocamos os pés no ginásio do Bandeirantes. Para mim, aquele ginásio é um templo do vôlei catarinense. Era gostoso de jogar ali. A torcida fez pressão desde o aquecimento.
Vamos ver se lembro de algumas jogadoras. Brusque dirigido por Ricardo Cruz tinha Marcia Stein, Vívian Schwarzkopf e Heloísa Hoffmann entre outras. A Hering contava com a lendária Isolde Neitzke, Mônica Beckemkamp, Márcia Radke, Raquel Rodrigues, Simone Leal e a promissora e futura medalhista olímpica Ricarda Lima que então tinha 17 anos.
Começamos bem o primeiro set e isso incendiou o ginásio e o jogo. E a torcida estava disposta a dificultar as coisas. Estávamos vencendo e a primeira interrupção foi quando o marido de uma das jogadoras de Brusque que era também técnico do time de basquete e conhecia bem o ginásio, apagou os refletores da quadra. A iluminação demorou muito a acender novamente.
Quando estávamos para fechar o set, o primeiro árbitro Carlos Ioshiura, teve que interromper o jogo novamente e pedir policiamento porque o estavam cutucando com um guarda chuvas. Mesmo com a nova paralisação, vencemos o primeiro set.
O problema é que ao final do set, na hora de dar um mergulho, Isolde bateu o queixo no chão, abrindo-o e sendo obrigada a ser levada para tomar pontos. Isolde era uma jogadora diferenciada e muito raçuda. O time não se abateu com sua saída, mas perdeu sua jogadora mais emblemática. Se não me falha a memória era a capitã do time. Com isso o time de Brusque ganhou moral e virou o jogo para 2x1.
Estávamos perdendo o quarto set, quando da arquibancada, como se fosse numa cena de filme surge Isolde correndo, com um enorme pedaço de esparadrapo no queixo, abrindo espaço por entre as pessoas. Consegue chegar à quadra e fala para João que estava tudo bem, que tinha tomado pontos e que queria voltar para o jogo. João não se fez de rogado, percebeu o momento psicológico do time e a colocou em quadra. Deu certo, sintomaticamente no momento em que ela pisou na quadra nosso time se encheu de brios e o time de Brusque abaixou a cabeça - viramos o quarto set.
Naquele momento a situação nos era tão favorável que o público percebeu que seu time não teria mais forças e começou a ir embora. Do meio do quinto set em diante jogamos com o ginásio quase vazio. Com isso, não é preciso dizer, ganhamos tranquilamente o set, que ainda não era no sistema sem vantagem. Isso mesmo, todos os sets, inclusive o quinto, eram jogados até 15 pontos e com vantagem.
Antes de terminar, mais uma da torcida, faltavam um ou dois pontos para fecharmos o jogo e alguém surge na arquibancada e arremessa na nossa quadra um vidro enorme de maionese vazio que passa raspando pela cabeça da nossa levantadora e vem rolando pelo chão parar no banco, na minha direção e o mais incrível, sem se quebrar.
Vencemos! Foi uma enorme recompensa para um time que havia trabalhado muito e humildemente reconhecido suas limitações para superar uma equipe que tinha sido superior até ali. E os JASC? Bem, os JASC vieram de bandeja. Mas isso já é uma outra história.
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