Há poucas coisas que admiro mais em um homem do que a humildade e a capacidade de aprender com os próprios erros. Tento agir assim, mas como a maioria de nós, meros mortais, na maior parte das vezes fracasso miseravelmente. Mas tento. E é isso o que importa: tentar. Porque a vida só tem propósito se conseguirmos sair dela melhores do que entramos.
Quando li post do jornalista e blogueiro Ricardo Kotscho que foi amplamente reproduzido na internet inclusive por blogueiros de direita como um outro Ricardo, o Noblat, simplesmente porque foi desfavorável a Lula, senti aquela ira dos justos que frequentemente me faz perder a mão e ultrapassar limites, turrão e passional que sou.
Na incessante busca por deixar esta vida menos imperfeito do que cheguei a ela, logrei uma vitória. Em vez de escrever um post duro criticando Kotscho, dizendo que ele fora injusto com Lula e, talvez, até cometendo injustiça como a dele, decidi lhe enviar um e-mail pedindo que refletisse sobre o que escreveu. Como gentleman que é, ele me respondeu.
Antes de reproduzir a nossa troca de mensagens – o que farei por sugestão do próprio Kotscho –, reproduzirei o texto que originou tudo, em benefício de quem não leu.
—-Só Lula sai perdendo com os ataques de Lula
Por Ricardo Kotscho
Desconheço os motivos que levaram meu velho amigo Lula a subir o tom dos seus discursos em encontros com estudantes e sindicalistas esta semana. Como ele tem viajado muito e sua agenda anda carregada, faz algumas semanas que não conversamos.
Ao anunciar, rufando os tambores, que vai voltar a viajar pelo Brasil, apenas seis meses após deixar a Presidência da República, para defender seus projetos de inclusão social contra a ação de inimigos reais ou imaginários, Lula exerce seus direitos de cidadão e maior líder político do país. Precisa saber, porém, se o momento político é oportuno para esta volta antecipada.
Desde que surgiu no cenário político nacional como líder do novo sindicalismo do ABC, no final dos anos 1970, Lula sempre alternou a tática da negociação com a estratégia do confronto, na base do “nós contra eles”.
No começo, “eles” eram os donos do capital e os militares da ditadura. Após a redemocratização, assumiram o papel de “outro lado” os candidatos dos partidos que concorriam com o PT. Com a progressiva fragilização da oposição partidária no país, desde o segundo mandato de Lula, e até hoje, quem assumiu o papel de “eles” foi a velha mídia, até por iniciativa da própria.
Resta saber quem ganha com isso. A imprensa, não é, claro, como mostra a encruzilhada em que se encontram tradicionais empresas do ramo com a constante queda de circulação e audiência dos seus produtos jornalísticos, diante da concorrência das novas mídias eletrônicas.
Com seus constantes e cada vez mais irados ataques à imprensa, Lula, por sua vez, só dá mais munição para os porta-vozes do bloco mais reacionário da decadente imprensa tucana, que vivem acenando com os fantasmas do “controle social da mídia” e da “volta da censura” como se estivessem torcendo por isso.
Confesso a vocês que não consigo entender, muito menos explicar esta nova ofensiva do ex-presidente contra a mídia. Lula é um cabra vencedor, como se diz lá na terra onde nasceu, um líder político respeitado no mundo todo, deixou o governo como o mais popular presidente da história, é aplaudido e abraçado por onde passa, o que quer mais?
Agindo desta forma, Lula acaba também não ajudando a presidente Dilma, que passa por um momento de sérias dificuldades, em várias áreas do governo, e estava tentando melhorar seu relacionamento com os donos da grande mídia, que a vinham tratando até muito bem antes da crise Palocci.
Claro que seus editores de confiança, colunistas e blogueiros não vão sossegar o rabo enquanto não conseguirem destruir o que chamam de “mito Lula”, jogando criador contra criatura, inflando uma crise atrás da outra, atiçando a oposição a reassumir seu papel de oposição, que a imprensa se viu obrigada a desempenhar, segundo a ANJ.
Cada vez que se sentem atacados, no entanto, mais agressivos eles se tornam, mais motivados a fazer novas denúncias reais ou imaginárias, a criar um permanente clima de crise do fim do mundo no país. A meu ver, só Lula perde com isso, arriscando a sua própria imagem aqui dentro e lá fora.
Melhor faria Lula se deixasse de se importar tanto com “eles” e dedicasse mais algum tempo a fazer palestras e reflexões sobre seu período de presidente, deixando o terreno livre para Dilma fixar uma identidade própria do novo governo.
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Os mais atentos à política devem se lembrar de entrevista que o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, deu durante o processo eleitoral do ano passado afirmando que José Serra “estaria eleito”. Kotscho como que endossou tal declaração, que o próprio Montenegro acabou desdizendo quando já se tornara claro que era uma falácia.
Naquela oportunidade, fiz o que consegui não fazer agora: escrevi um post zangado inclusive colocando em dúvida a amizade que Kotscho diz sentir por Lula, chegando ao ponto de levantar uma ilação sobre suas razões para escrever o que escreveu. Porém, apesar do erro dele e da minha precipitação, acabamos nos entendendo em troca posterior de e-mails.
Desta vez, portanto, fiz o que era certo e enviei a ele a mensagem que o leitor pode conferir abaixo.
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Caro Ricardo,
até pensei em escrever sobre o seu post dizendo que Lula não deveria brigar com a mídia, mas achei que poderia passar do ponto e, assim, resolvi apenas lhe enviar esta mensagem.
Será que Lula brigar com a mídia que não o deixava em paz nem durante os primeiros meses do ano, quando ele se recolheu em silêncio, e que chegou a acusá-lo de assassino ou de ser maníaco sexual, não foi o que o estimulou a reagir?
Sei da sua amizade com Lula, mas seu artigo dá a entender que é ele quem provoca a mídia quando apenas está reagindo. Tem muita gente indignada com o seu texto.
Respeitosamente, Ricardo, sugiro que dê uma refletida. Achei seu artigo injusto. Tenho certeza de que não foi a sua intenção, mas que pareceu injusto, pareceu. E muito.
Perdoe-me, mas ouso lhe dar um conselho: reflita se não passou do ponto do que um amigo teria escrito, pois Lula ficou mal na foto apesar de a vítima de tudo isso ser ele.
Forte abraço,
Eduardo Guimarães
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A seguir, a resposta nascida da reflexão humilde e lúcida desse que, com a atitude que tomou, ganhou o meu respeito.
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Caro Eduardo,
Te agradeço a atenção e o conselho.
A maioria dos leitores também me criticou e deu razão ao lula, como você pode ver nos comentários publicados no blog.
Pelo jeito, errei mesmo a mão.
Acho que não teria problema com Lula porque já discutimos e divergimos muitas vezes sobre este assunto.
Na maioria das vezes, penso que ele tem razão, mas acho o desgaste inútil.
Penso sobre a nossa imprensa, como está no post, o mesmo que lula, mas divergimos na forma de reagir a ela.
Nos falamos por telefone na segunda-feira e ele ficou de marcar uma conversa para colocarmos o papo em dia.
Mais uma vez, obrigado.
Abraços,
Ricardo Kotscho
PS: fique à vontade caso queira tratar do assunto em teu blog, utilizando também a mensagem acima. Esta questão do relacionamento com a mídia é muito polêmica, vale a pena o debate.
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