A homenagem ao craque Mané Garrincha tem chance de sobreviver à implosão do estádio que levava o seu apelido. Na Câmara Legislativa, tramita um projeto de lei que dá à nova arena esportiva, chamada pelo governador Agnelo Queiroz de Estádio Nacional de Brasília, o nome do antigo estádio.
A proposta, de autoria da distrital Liliane Roriz (PSD), foi aprovada na quarta-feira (9), por unanimidade, na Comissão de Assuntos Sociais, presidida por ela. Além de Liliane, os deputados Benício Tavares (PMDB), Luzia de Paula (PPS) e Evandro Garla (PRB) votaram a favor do projeto, que segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça. Se passar e for levado ao plenário, serão necessários no mínimo 13 votos para aprovar a mudança.
Caberá a Agnelo Queiroz sancionar ou não a troca de nome. Em nota, a Secretaria de Comunicação do GDF dá sinais de que deve prevalecer a vontade do governador. “O Estádio Nacional de Brasília é o nome oficial, já que representa e identifica a capital federal no país e no mundo. No entanto, o nome Mané Garrincha estará sempre no vocabulário e nos corações dos cidadãos brasilienses, a exemplo do Estádio Jornalista Mário Filho, popularmente conhecido como Maracanã.”
O governo garante que a homenagem da capital ao herói do Botafogo e da Seleção Brasileira não se perderá. Em outro trecho da nota, destaca que faz parte do projeto “a instalação, dentro do estádio, do museu Mané Garrincha, que vai resgatar a memória e a história de um dos maiores jogadores de futebol. No Estádio Nacional, o homenageado já existe, é o Mané Garrincha”.
Não é o que pensa a oposicionista Liliane Roriz. Ela diz que o jogador de futebol é referência mundial e deve ser eternizado no nome formal da arena. “É uma forma de homenagear um ícone do esporte brasileiro e de manter a tradição do nome, que se tornou ponto de localização na capital.”
Para a deputada, a Lei Orgânica do DF é clara ao dizer que o poder público tem o dever de proteger os bens culturais. “É uma grande estupidez fazer isso, vai descaracterizar a cidade sem propósito.”
Torcedores do Botafogo, time no qual Garrincha atuou em quase toda a sua carreira, nas décadas de 1950 e 1960, também são contra a retirada do nome do craque. Dono do bar botafoguense Só Drinks, na Asa Norte, Nilton Novato da Costa diz que é falta de respeito com a identidade brasileira. “Desmerecer um gênio como ele é uma bola fora na cultura do Brasil”, lamenta Novato, ao se lembrar das jogadas memoráveis. “Temos a oportunidade de modernizar nosso estádio e capacitá-lo para grandes eventos, por que não unir os fatores novos à tradição do nome?”, questiona o advogado Dante Batista, 30 anos, torcedor do time.
Na internet, pessoas contrárias à substituição do nome fazem um abaixo-assinado. Para participar, basta entrar no site http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N14271 .
Demolição
O estádio Mané Garrincha foi inaugurado em 10 de março de 1974, quando o jogador tinha 40 anos. Com capacidade para 45 mil pessoas, sediou importantes eventos esportivos e culturais de Brasília. Foi demolido em maio para dar lugar ao Estádio Nacional de Brasília. A nova arena esportiva multiuso, cujo projeto foi feito em 2008, receberá sete jogos da Copa do Mundo de 2014 e a abertura da Copa das Confederações, um ano antes.
O novo nome foi definido em 20 de julho de 2010, quando o governador à época, Rogério Rosso, assinou o contrato com o Consórcio Brasília 2014 para a reconstrução. O atual chefe do Executivo local manteve a vontade do antecessor. O engenheiro eletricista Albenzio Trajano de Moraes, 63 anos, desaprova. “Tirar o nome original do estádio faz com que Brasília perca um traço da nossa cultura, que é enaltecer os grandes criativos brasileiros.”
Pernas tortas e eficientes
O craque dos gramados, conhecido pelas pernas tortas e pela habilidade com a bola, nasceu em 18 de outubro de 1933, em Pau Grande – distrito de Magé –, no Rio de Janeiro. Embora na certidão de nascimento conste Manuel Francisco dos Santos, o mundo o conhece como Mané Garrincha, ou simplesmente Garrincha.
Aos 14 anos, o craque já surpreendia os adversários com dribles desconcertantes. Aos 20, ingressou no clube que mudaria o rumo de sua vida, o Botafogo. Garrincha jogou pelo alvinegro carioca por 12 anos. Com o time, foi campeão mundial de futebol duas vezes – 1958 e 1962 – e campeão carioca três – 1957, 1961 e 1962. Na Seleção Brasileira, o ponta-direita disputou 60 partidas, apenas em uma delas o placar foi negativo. Ajudou o País a vencer a Copa do Mundo duas vezes: em 1958 e em 1962.
Garrincha morreu em 20 de janeiro de 1983, em consequência de uma cirrose. Seu corpo foi velado no Maracanã, no Rio.
Fonte: Brasília247
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