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domingo, 21 de abril de 2013

Assessora de deputado pedi avião de acusado


  
 
Documento do Ministério Público estadual afirma que a assessora do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) Denise Cavalcanti pediu ao empreiteiro Olívio Scamatti que providenciasse um avião para o petista “viajar pelo interior de São Paulo”. Scamatti está preso sob acusação de chefiar uma quadrilha que fraudava licitações municipais com verbas de emendas parlamentares. O exlíder do governo Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados confirma que viajou em um avião providenciado pela auxiliar, mas diz não ter certeza se ele era mesmo do empreiteiro. ...

Datado de 5 de março de 2012, o relatório consta dos autos da Operação Fratelli, desencadeada dia 9 passado pela Polícia Federal e Ministério Público. O procurador de Justiça Luiz Otávio Roque subscreve a peça de 35 páginas que foi endereçada na época ao Tribunal de Justiça. ...

A citação a Vaccarezza está na página 30. O procurador transcreve trecho de uma interceptação telefônica de 15 de julho de 2010. “Denise, de Brasília, liga para Olívio e pergunta se ele pode emprestar o avião para o Vaccarezza viajar no dia seguinte pelo interior de São Paulo.”

O procurador também destaca outro grampo, de 17 de maio de 2010. “Denise, chefe de gabinete parlamentar, conversa com Olívio sobre aterro em Olímpia, afirmando que ele (provavelmente o deputado para o qual ela trabalha) tem o recurso e quer que eles indiquem alguém, perguntando se Olívio topa.”



A assessora foi exonerada do gabinete do petista após a eleição de 2010. O deputado diz tê-la demitido e nega relação com os episódios envolvendo Scamatti, dos quais diz não ter conhecimento. Ele afirma que fez uma reestruturação em seu gabinete. Denise foi nomeada para trabalhar no serviço funerário da cidade de São Paulo em 11 de janeiro como assessora de informática. Funcionários disseram que sua exoneração foi pedida nesta semana, após as revelações dos grampos em que esteve envolvida. No Diário Oficial, contudo, até agora nada foi publicado.

O procurador transcreve uma sucessão de 38 grampos telefônicos – captados entre 2008 e 2010 –, dos quais 23 citam prefeitos e ex-prefeitos e 15 mencionam deputados federais, senadores e ministros. “Colhemos dados indicativos de provas substanciais colhidas principalmente com base nas interceptações telefônicas empreendidas, demonstrativas de delitos praticados por diversos prefeitos da região noroeste do Estado”, diz Otávio Roque, amparado em procedimento autorizado judicialmente.

O procurador informa que foram selecionadas “algumas provas indicativas do envolvimento de prefeitos em possíveis ilicitudes, ressaltando que se trata de apenas parte do conjunto probatório existente”. Ele sustenta que os áudios representam “indicação direta dos indícios de ciência dos chefes dos poderes executivos municipais a respeito de
possíveis fraudes licitatórias”. “É certo que a investigação indicou a existência de indícios de que os esquemas fraudulentos investigados contariam com eventuais liberações ilícitas de verbas publicas parlamentares e
ministeriais”, anota.

Contatos. Ao transcrever resumidamente áudios captados pela investigação, o procurador elenca o que chama de “rol indicativo dos elementos de provas apurados nestes autos referentes a deputados, senadores e ministros de Estado”. Os contatos dessas autoridades, diz o procurador, são “mantidos com os empresários investigados, principalmente com Olívio”.

‘Apaga tudo, pelo amor de Deus, a polícia está aqui’

● O analista de sistemas Luiz Henrique Peres, funcionário da Demop preso pela Polícia Federal no último sábado por ocultação de provas, afirmou, em depoimento, que o empresário Olívio Scamatti, assim que foi detido, pediu que arquivos eletrônicos que estavam em uma mala dele na empreiteira fossem apagados.

O analista contou ter recebido uma mensagem de celular do filho de Olívio. “Luiz, apaga tudo, pelo amor de Deus, a Polícia Federal está aqui”, foi a ordem.

Posteriormente, o próprio empresário ligou para o analista para saber se ele dera fim nos documentos que estavam em pen drives, um HD externo e um tablet que Scamatti sempre carregava consigo. Peres admitiu que escondeu na casa de sua sogra os objetos eletrônicos que estavam na pasta de Scamatti, e afirmou que apagou apenas “superficialmente” os documentos. O analista os entregou à PF, que aguarda uma perícia técnica para acessar os dados. Por ter cooperado, ele foi solto no próprio sábado.

“Não sei que tipo de ameaças ele (Peres) sofreu para falar o que falou, eu recebo com muita suspeita”, declarou o criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Scamatti. “Causou-me profunda estranheza o fato de o delegado ter deixado esse cidadão incomunicável, não permitindo que sequer o advogado dele tivesse contato.” / F.G e F.M.

‘Ela disse que tinha um amigo que podia me ajudar’
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) confirmou que sua ex-assessora Denise de Alencar Cavalcanti “arrumou uma ou duas vezes” aviões para que viajasse ao interior na época do diálogo flagrada em escuta telefônica a conversa data de 15 de julho de 2010. Ele, contudo, disse não estar seguro de que a aeronave fosse do empresário Olívio Scamatti. “Não tenho certeza de que esse avião era do Olívio.”

Vaccarezza negou que tenha ordenado à assessora que pedisse o avião em seu nome. “Ela me disse que tinha um amigo que podia arrumar.” O petista afirmou que em nenhum momento Denise lhe disse que a aeronave era do empreiteiro.

Embora a assessora tenha sido flagrada pedindo um avião “para o dia seguinte”, o deputado disse que não foi ao interior em voo de carreira porque tinha “urgência” para encontrar, na região de Pereira Barreto (SP), um advogado que hoje está lotado em seu gabinete na Câmara.

O deputado negou que tenha pedido para Denise tratar de emendas com Scamatti. Afirmou não ter destinado verba para obras em um aterro na cidade de Olímpia. O ex-líder do governo na Câmara rechaçou a hipótese de ter dado aval a Denise para que negociasse emendas suas com quem quer que fosse. “Em hipótese nenhuma”, disse ele.

Vaccarezza disse que viu Olívio “apenas” quatro ou cinco vezes na vida e afirmou ter demitido Denise logo após as eleições de 2010. Ele nega que a saída dela – e a do marido de Denise, que também era funcionário do gabinete – tenha vinculação com os episódios envolvendo Scamatti.

A reportagem tentou contato com Denise no Serviço Funerário da cidade de São Paulo, onde ela está lotada, mas não conseguiu localizá-la.

O criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor de Scamatti, entrou com habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 3.a Região. Toron resumiu dois argumentos de seu pedido. “O juiz (que mandou prender Scamatti) disse que Olívio é rico e pode fugir. Se isso fosse legítimo todo rico que fosse processado deveria ficar preso. Um preconceito inadmissível. Além disso, as provas todas já foram colhidas. Não faz sentido a prisão.” F.G. e F.M

Por Fausto Macedo e Fernando Gallo


Fonte: Jornal Estado de São Paulo - 20/04/2013

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